Toda vez
que o Ser Humano mergulha
nos seus sonhos, encontra
a Cela chamada Realidade
tão escura
quanto as sombras perenes
daquele céu cor de chumbo
dos seus desenganos, desenganos,
que insanos, perambulam sem rumo,
desfilando, dementes,
e prontos para insistir no vagar
no vagar...
E já
que, sem ar, se debate,
e à tona volta, exausto,
em busca do abandono,
e às margens
como um trôpego náufrago
de imediato adormece
(o coração a pulsar devagar),
os poemas, nascidos sem rima,
são palavras vazias,
pois em todos vê a sombra
da Cela que o aprisiona
Então deseja
ser embalado por uma canção bem leve
montado no dorso do seu sonhar,
seu sonhar.
Uma canção
cujo nome é liberdade
que o leve para além das estrelas
e que rompa os elos do
Um voo livre
e leve que o transporte
para bem longe das fronteiras cinzas
do cotidiano
Mas, de quando em vez,
ao olhar sua Cela,
percebe, num canto escuro,
um tênue brilho, de séculos
Vê o pálido brilho da chama
Cujo nome é Esperança
E que aquele o frio
Dos seus dias, tão iguais
E então sonha um voo
Iluminado por fachos de arco íris
Nascidos no coração do cárcere
E se projetando de norte a sul, norte a
sul
Seria então
Um roçar de corpos nus
Derramados sobre a relva
Na claridade das manhãs
Seria então
Um correr descalço na chuva
Sem ter horas e nem porquês
É assim que será.